Falando sobre a perda de memória

Dra. Thélia Rúbia • mai. 12, 2020

Falando sobre a Perda de Memória

Dentre as muitas queixas que aparecem no consultório, uma das mais frequentes é a falta de memória. Pode ser um simples esquecimento momentâneo de algo trivial, ou mesmo algo bem mais grave.

Certo mesmo, que problemas relacionados à memória podem estar relacionados a causas benignas, até a causas mais graves, sendo necessária uma atenção especial quanto a isso.

Algumas das características da perda de memória

Em maior ou menor grau, todos nós passaremos por algum tipo de esquecimento no decorrer da vida, seja simplesmente não saber onde deixou determinado objeto, esquecimento de datas ou compromissos, sejam eles importantes ou não; que podem intensificar com o desgaste físico, mental ou emocional. Existe aquela perda de memória normal, que acontece com o avançar da idade, devido a um envelhecimento normal do cérebro e existe aquela que é progressiva ou mesmo extrema, devido a certas doenças.

Também é preciso destacar que a perda de memória tanto pode ser repentina, quanto pode acontecer de maneira gradativa, no decorrer dos anos e com o avanço da idade; ou ser temporário, dependendo de determinadas situações de nossa vida ou do uso de substâncias lícitas ou ilícitas. Existe até mesmo o que chamamos de Comprometimento Cognitivo Leve, que é um estágio de transição entre o envelhecimento normal da pessoa e uma síndrome demencial como a doença de Alzheimer.

Ela também pode afetar a memória de uma pessoa para se lembrar de eventos muito recentes, ou mesmo de acontecimentos do passado (em alguns casos, acontecem ambas as coisas); sendo que estas informações servem para diferenciar uma doença da outra, pois toda causa de esquecimentos, da mais benigna até a mais grave, tem características próprias; como por exemplo, a doença de Alzheimer, que prejudica, inicialmente, a memória para fatos recentes.

Perda gradual dos neurônios e a relação com a memória

A memória, e todo o pensamento humano, são afetados diretamente pelo nosso sistema nervoso, que tem como pilar o nosso cérebro, e cujas células desse sistema são chamadas de neurônios.

Acontece que, com o passar do tempo, os nossos neurônios vão morrendo (sem serem repostos, ao contrário de outras células), havendo, portanto, um processo natural de involução da nossa massa encefálica.

Ao mesmo tempo, um neurônio de uma pessoa jovem, que faz cerca de 10 mil conexões, com o passar da idade, pode chegar a fazer 100 mil conexões. Ou seja, quando falamos de perda de memória, por qualquer motivo que seja, estamos falando da qualidade das conexões nervosas, e não da quantidade.

Ainda existem também aquelas pessoas que tendem a “perder mais rápido” os seus neurônios com o passar da idade, o que, em muitos casos, pode significar o começo de um processo neurodegenerativo, aumentando as chances de doenças como Alzheimer, demência e outros transtornos mentais.

Principais causas do problema da perda de memória

Uso de alguns medicamentos

Muitos dos remédios que tomamos ao longo da vida podem ser responsáveis pela perda da qualidade das conexões nervosas, sendo, muitas vezes, a causa da perda de memória em algumas pessoas. Antidepressivos, ansiolíticos (calmantes), relaxantes musculares, sedativos e anti alérgicos são apenas alguns exemplos de medicamentos que, dependendo da dose utilizada e da associação entre elas, podem afetar nessa questão.

Tabaco, álcool e outras drogas

O consumo de álcool pode afetar a memória como um todo, além de ser um dos responsáveis por uma síndrome denominada de amnésia global transitória, que nada mais é do que uma perda súbita e temporária da memória.

O alcoolismo crônico pode levar a perda substancial de neurônios, contribuindo, não só para perda de memória, mas também para o comprometimento do raciocínio lógico e inteligência, podendo predispor para evolução de outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

Já o fumo reduz a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, que é um processo importantíssimo para a realização correta das funções cerebrais. Além disso, o tabaco interfere diretamente na degeneração dos neurônios. Já as drogas ilícitas podem alterar quimicamente o cérebro a ponto de serem responsáveis diretas pela falta de memória em muitas pessoas.

Privação do sono em diversos níveis

Importante destacar que a quantidade e (principalmente) a qualidade do sono são fundamentais para uma boa saúde, e também para uma memória sem falhas, pois é, principalmente, durante o sono, que ela é constituída. Contudo, dormir pouco ou mesmo acordar com bastante frequência, durante a noite, tende a causar fadiga em todo o corpo, perda da capacidade de atenção e foco, não existindo memória, sem capacidade de concentração.

Essa fadiga, principalmente a longo prazo, afeta a nossa capacidade de consolidar e também de recuperar informações que sejam bem recentes.

Vale a pena descartar que o sono, de boa qualidade, essencial para uma boa concentração e memória, só é possível a noite, pois o cérebro sabe quando é dia e quando é noite, através de um processo que se chama ritmo circadiano, dirigido pelo hipotálamo e glândula pineal, através da secreção da melatonina.

Deixar de dormir a noite, para dormir durante a manhã ou dia, leva a um sono fragmentado, com microdespertares, o que não deixa chegar às fases mais profundas do sono, como a fase 4, sendo um sono de péssima qualidade e incapaz de fazer conexões e circuitos de qualidade, para as novas memórias.

Depressão e estresse

A depressão é uma enfermidade que, entre outras coisas, pode afetar significativamente o nosso poder de atenção e concentração, o que está diretamente ligado à questão da memória. Tanto o estresse, quanto a ansiedade, também são fatores que podem interferir bastante na nossa concentração do dia a dia.

A partir do momento em que uma pessoa se encontra bastante tensa, a sua mente pode tanto ficar super estimulada, quanto bem distraída. Ou seja, a capacidade de se lembrar de alguma coisa de uma pessoa fica seriamente comprometida. Estresses causados por traumas emocionais causam o mesmo efeito.

Vale salientar que a depressão e ansiedade crônicos podem levar a disfunção e morte neuronal, predispondo a doenças como a doença de Alzheimer.

Deficiência nutricional

A boa nutrição é fundamental para o bom funcionamento do nosso organismo como um todo, e isso inclui o nosso cérebro.

Especificamente, a deficiência das vitaminas B1 e B12 é a principal responsável pela perda de memória em muitas pessoas.

Até mesmo porque são esses nutrientes os responsáveis pela composição dos neurônios.

Lesões na região da cabeça e AVC

Batidas fortes na cabeça prejudicam o cérebro, e consequentemente a memória, que pode melhorar gradativamente com o decorrer do tempo, a depender da recuperação da pessoa.

Já o Acidente Vascular Cerebral (o AVC) acontece quando a irrigação de sangue para o cérebro é interrompida, levando a morte dos neurônios, que a depender da área atingida, pode prejudicar a retenção de novos dados. A perda de memória, nesse caso, tende a ser de curto prazo.

TDAH ou transtorno de desatenção e hiperatividade

Esta é uma disfunção ou distúrbio do neurodesenvolvimento, que se trata da síndrome do pensamento acelerado congênito, em que a velocidade de processamento mental é tão alta, que o paciente não tem capacidade de ter foco ou atenção prolongada em um assunto, prejudicando, em demasia, a capacidade de reter informações, levando a um prejuízo de aprendizado, caracterizado, pelos leigos, como dificuldade de memorizar.

É importante colocar, que o excesso de estímulos, que esta nova geração está sofrendo, fazendo várias atividades ao mesmo tempo, ficando ligada em jogos ou redes sociais permanentemente, tem levado a uma situação, com prejuízos de concentração e memória, semelhantes ao TDAH, através da síndrome do pensamento acelerado adquirida.

Quando buscar ajuda?

Caso a falta de memória, em qualquer nível, esteja afetando atividades cotidianas simples, é necessário procurar um profissional de neurologia para investigar quais as possíveis causas do problema, e o seu consequente tratamento.

Além de analisar o histórico médico do paciente e fazer algumas perguntas (como “ Por quanto tempo você ficou estressado nos últimos tempos? ”), o neurologista também fará alguns exames físicos, além de mais algumas perguntas para atestar a sanidade mental do paciente.

O tratamento do problema também vai depender da causa, às vezes, sendo necessário o uso de uma medicação específica para cada situação.

Dra Thélia Rúbia

Especialista em Neurologia e Clínica Médica, mas, acima de tudo, uma médica, antes de ser especialista.

São mais de 20 anos atendendo a especialidade de Neurologia, vendo o paciente em sua integralidade e não segmentado em partes específicas!


Atende com um olhar mais atento a todos os distúrbios, clínicos ou não, e situações, que possam interferir em todas as dores ou queixas neurológicas, que o paciente possa apresentar.


Fez Residência Médica em Neurologia e Clínica Médica, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é Formada em Medicina, pela UFJF-MG. Também é Especialista em Eletroencefalograma pelo Hospital São Paulo (UNIFESP).

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